Livro #2: Memórias do subsolo

 Título: Memórias do subsolo | Autor: Fiódor Dostoiévski | Tempo de leitura: Alguns meses entre pausas


Resumão: O livro retrata um monólogo do narrador, isto é, o homem do subsolo, cujo nome não chega a ser relatado no livro. Este personagem é um ex-funcionário do governo, aposentado, que mora em São Petersburgo, na Rússia, e a história se passa no século XIX. A primeira parte do livro é composta por suas observações sobre a vida e suas convicções muitas vezes desconfortáveis. Já na segunda parte, são narradas suas memórias, especialmente relacionadas às suas relações interpessoais, retratando embates vividos e seus remorsos.


Observações:

- Muitas e muitas camadas são dadas sutilmente ao personagem, de modo que mesmo lendo na perspectiva dele, conseguimos notar contradições e fraquezas humanas subliminares em sua fala.

- Senti que o personagem demonstra uma auto alienação como forma de fuga e transita entre se vangloriar pela inteligência acima da média que considera ter e, ao mesmo tempo, entender sua mediocridade.

"Sou um homem doente… Sou um homem raivoso. Sou um homem sem graça nenhuma."

- O personagem possui uma personalidade difícil e constrangedora, entretanto, de forma paradoxal, sentimentos simpatia por ele. Vale ressaltar que em diversos momentos o narrador é tão absurdo que torna o livro cômico. Muitas vezes, rir é uma reação do leitor para os sentimentos de constrangimento alheio que o livro causa, mas também pela sagacidade e mau humor do personagem.

- Há um desprezo do personagem pelas convenções sociais e pelas pessoas, entretanto, em diversos momentos é perceptível sua necessidade de se encaixar nessa sociedade que ele tanto abomina.

- Apesar do narrador beirar o doentio, é muito fácil nos identificarmos com trechos dos seus pensamentos e formas de agir, levando à uma auto reflexão sobre a natureza humana.


Pontos não tão legais: Pode ser difícil entender certas referências do livro que traz aspectos históricos e filosóficos, mas também, é uma oportunidade de ingressar por novos assuntos à quem tiver a coragem de pesquisar sobre tais referências.


Outras notas: A primeira parte do livro denominada "Subsolo" é a minha favorita e, de longe, a mais engraçada. Gosto muito de certos termos que ele usa ("ignóbilzinho") e comparações que ele faz. 



Filme #1: Julieta

  Título: Julieta | Diretor: Pedro Almodóvar | Nacionalidade: Espanhol



Para lembrar da história: Julieta está prestes a se mudar de país com seu companheiro quando encontra, na rua, Beatriz, uma amiga de infância da sua filha. Elas conversam sobre Antía, a filha, e esse encontro faz com que Julieta entre em uma angústia, desistindo da mudança para Portugal e voltando a morar em um apartamento no mesmo prédio onde já morou no passado. Enquanto Julieta escreve uma carta para Antía no presente, cenas do passado mostram toda a história das duas, desde quando a mãe conheceu o pai (Xoan) em uma viagem de trem até o momento em que Antía abandona a mãe sem deixar rastros, alguns anos depois da morte do pai. No fim, Julieta recebe uma carte Antía desabafando sobre a dor de perder um filho. O filme acaba com Julieta viajando para rever a filha. 


Personagens: 

Julieta quando jovem é uma mulher incrível, linda, autêntica e inteligente. Já a personagem mais velha incomoda pela instabilidade emocional e apatia. 

Xoan é um homem interessante, mas peca pela infidelidade. Ava, a amiga do casal, também é uma mulher forte e talentosa (ironicamente gostei dela, apesar de ela ter um caso com Xoan). 

Antía na fase adolescente é fantástica, cuidadosa, uma rocha nos cuidados com a mãe (destaque desconfortável para a cena em que as adolescentes tiram a mãe desolada da banheira e a secam, cuidando dela).


Pontos interessantes:

Julieta conhece e inicia um romance com o Xoan quando este ainda é casado e sua esposa está doente, em estado vegetativo. Mais tarde, o filme mostra Julieta visitando os pais e observando uma situação parecida. A mãe dela está doente enquanto o pai desenvolve uma relação com a auxiliar da casa.





Livro #1: Fique onde está e então corra

Título: Fique onde está e então corra | Autor: John Boyne | Tempo de leitura: 3 dias
Para lembrar da história: O aniversário de 5 anos de Alfie coincide com o início da Primeira Guerra Mundial e o seu pai se alista para o exército, logo precisando partir. Quatro anos mais tarde, a guerra ainda não acabou e há mais de 1 ano a família não recebe cartas de George. A mãe de Alfie, Margie, justifica que seu esposo está em missão secreta, enquanto se desdobra para sustentar a casa. Vendo a exaustão da mãe, Alfie passa a trabalhar secretamente como engraxate na estação de trem e com o dinheiro ganho, preenche a carteira da mãe com quantias suficientes para deixá-la feliz mas não a ponto de desconfiar. Tudo muda quando Alfie descobre que seu pai está internado em um hospital nas redondezas e, escondido, ele se dirige até lá onde vê cenas assustadoras: muitos homens com um condição chamada neurose de guerra. Alfie fica obstinado à resgatar seu pai pois está certo de que somente a família e a Rua Damley poderiam salvá-lo. O problema é que George não é mais o mesmo, ele está doente, fala frases desconexas e por vezes, esquece quem é o próprio filho. Durante a execução do plano, num descuido, Alfie perde seu pai na estação de trem. O impasse não dura muito tempo, pois logo a família descobre o paradeiro do ex-soldado: a casa de Joe Patience, o seu melhor amigo de infância. Joe vinha observando Alfie desde o início de seus planos e, assim, pôde acolher George quando este saiu correndo na estação de trem. O último capítulo do livro parte para quatro anos mais tarde, no aniversário de 13 anos do protagonista. George, já recuperado, reflete sobre como a coragem de Alfie salvou a família.

Personagens:

Kalena: Melhor amiga de Alfie. Ambiciosa, desejava ser primeira-ministra ainda que, naquela época, as mulheres nem ao menos pudessem votar.

Joe Patience: Ativista, leitor assíduo e um homem à frente do seu tempo, motivo pelo qual era considerado "estranho" por sua vizinhança tradicional. Se nega à ir para a guerra e sofre as consequências disso.

Coisas curiosas: Naquele época, os homens que se recusavam à ir para a guerra por motivos religiosos, morais ou éticos eram considerados objetores de consciência. O livro narra um costume das mulheres de se aproximarem destes homens em público e entregarem à eles uma pena branca, símbolo de covardia.

Pontos legais: A
 forma como o autor ilustrou a guerra pela perspectiva das famílias: a pobreza, a falta de acesso aos alimentos e a necessidade de que as mulheres e as crianças trabalhassem para sustentar a casa. A perspectiva dos soldados no campo de batalha também ficou clara pelas últimas cartas de George, quando ele narra o trauma de precisarem matar uns aos outros à mando dos sargentos e arriscarem a própria vida em busca dos corpos de colegas abatidos. 

Pontos não tão legais: O final do livro foi rápido e preguiçoso, pouco elaborado. Dado que o último capítulo passa para um futuro distante com George já recuperado, fiquei com a impressão de ser um final clichê em que a doença foi resolvida em um passe de mágica, como o próprio Alfie em sua visão infantil pensou que seria.